terça-feira, 24 de outubro de 2023

 Delicado erotismo: é quando a flor deixa a borboleta enfiar a língua na sua orelha.

Ali, onde não há ninguém

E onde toda a gente se encontra

Todos são sábios aquém

Singelos manequins de montra.


Pássaros alados de gaiola

No chorrilho da certeza

Que os asnos tocam viola

E os sapos carregam beleza.

 A idade é uma prostituta amiga que só nos abandona na hora da morte.

****

Só tenho poesia, as minhas palavras são a minha divina miséria.

****

A liberdade é um animal selvagem.

Deixa-a viver livre.

****

Questão pertinente: As casas de alterne podem trabalhar em modo take-away!?

****


Ilusório espectro luar,

Qual puta de gabardina desnudada,

Envolve o que tem para dar,

Adiando a luz da alvorada.

Continua... 

A mostrar a alma nua

Sem pudor

E com suor.


Ó alma prostituta,

Os pensamentos são os teus clientes

Sumidos nessa gruta

De desejos que não sentes.

quarta-feira, 8 de abril de 2020


O que a garra do Anjo dá,
A outra mão invisível retira.
As almas puras, ele libertará.
Mas das negras, fará sua mira.

Na fé cega da luz sobrenatural
Só ele almeja a cura impossível
E nas entranhas do eixo do mal,
Dá-se ao renascer do inverosímil.

E no Céu de uma terra crispada
E no campo das guerras e crenças,
A eterna Angelical cruzada,
Luta-se nas mãos das suas sentenças.

quinta-feira, 1 de março de 2018

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Se a chuva cai nas mãos da mundo,
Se o vento afaga as faces da cara,
Se o Sol brilha do espaço vagabundo,
Se o diamante é uma pedra rara:
Talvez, o amor seja preparo profundo.

Se o beijo mata os labios,
Se o abraço cura uma ferida,
Se as palavras são os rios,
Se a razão sem ti esta perdida:
Talvez, o amor seja a propria vida.

Se a soma das partes é o total,
Se o sorriso é dois igual a um,
Se o sentimento cresce em espiral,
Se a paixão é alimento e jejum:
O nosso amor é uma dadiva imortal.
Desaprendi a forma de pensar
Com a sabedoria processada,
A memória esgotou-se no respirar,
No próprio poço da sua morada;

Deixou de distinguir as imagens
Da intelectualidade da criação.
Confusa, findou-se nas viagens
Realizadas às terras da elocução...

A memória tornara-se muda
E o pensamento lógico amputado,
Agora, tudo se cingia à retórica sisuda
Do artifício de um ser crucificado.

Dolorosa, a apatia cerebral reinava.
Poderosa e senhoria da vontade,
No Eu que já não se lembrava
Que do esquecer, vive a humanidade.

terça-feira, 5 de novembro de 2013




Espiados por pistolas de suspiros
Tombaram relutantes no chão,
Estranharam as dores dos tiros
E as ânsias cravadas no coração
Então já mortos ergueram-se
Das tenazes da terra sepulcral
E heroicamente debateram-se
De tremendo e inglório final

E, mais não escrevo…
Porque as histórias são finitas
E o final não tem relevo
Para as almas imaginativas…

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Escrevi palavras…
Alguém as levou;
Sem as ler...
Eram bravas!
E, todo o tempo parou,
Sem eu querer...

Os sentidos delas…
Perfeitas borboletas,
Apenas crisalidas,
Futuramente belas…
Finaram incompletas,
Chorando feridas!

domingo, 9 de setembro de 2012

Nunca silenciem um poeta, é o mesmo que silenciar o universo.
Não lhe digam para não escrever porque é adverso.
Se o poeta imagina e escreve, existe realmente:
Porque o mundo roda na plenitude da sua mente.

O poeta não precisa de ter a certeza das suas palavras
Porque o que diz é só dele na subjectividade de todos
E a objectividade que tem como incertezas raras
É de certo um dos seus maiores medos.

Não matem o poeta ante de ele morrer,
Ele morreu muito antes ainda de o ser!
Chorem o seu nascimento porque ele não nasce
Como a flor depois de morta não floresce.

Amem a momentaneadade da inspiração
Fortuita da loucura insana do poeta
Porque ela é somente uma breve aparição
Sagaz, rara e bela como a cauda de um cometa.
A arma está engatilhada,
Pronta a disparar,
No cano da encruzilhada
Sem se preocupar.

No tiro de um sopro
Dos mil anos que viverei
Vou sentir o dobro
Do amor no qual sonhei.

Sem medo do receio,
Do futuro da trajectória,
Do grito do calafrio
Que mata a historia...

A bala saiu desenfriada
Rumou ao coração dela
E, numa só saraivada,
Apaixonou-se por ela!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Chora por mim meu amor...
Por dor, chora!
Chora pela dor
qual seja ela, chora!

Prova que é merecida
A razão do choro
e nunca será perecida
a paixão que adoro.

Chora à alegria
e ao cheiro do amor.
Incenso da alegoria
Chora amor, sem nenhum ardor!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma flor brota no papel.
Rasgo-o, sem pudor!
Filha da barriga do pincel,
Nasceu sem um grito de dor...

Frágil, borrão de tinta...
Cuspida na imortalidade branca,
Onde apenas o tempo pinta
A cor do homem que a espanca.

E, no abraço, unem-se os passos,
Envolvem-se em bizarra sequência:
E a comunhão faz brotar os traços,
Dos desvarios de uma artistica demência.

Engarrafado

Parado! - no meio do caos citadino - em mais uma fatídica hora de ponta...
Alguém desenrosca a tampa do refrigerante rodoviário!?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Reflexões intrasubjectivamente impessoais.

I - Deitei-te nua no branco dos lençóis onde escrevo, … ó minha escrita amante!

II - Queimo, queimo no teu fogo e não o vejo, nem às cinzas do destino que imoladas por um fogo que não arde, cegas me queimam!

III - A essência da beleza está em que ela é tão subjectiva quanto objectiva, seja efémera ou eterna, preenche misteriosamente quem a consegue ver.

IV - Ser feliz é ter uma alegria perseverante na alma livre de correntes.

V - Uma vida sem surpresas, não é vida, é a monotonia de estar morto.

VI - A embriagues natural da alma é a alegria.

VII - O verso em rima livre é como perfume sem cheiro.

VIII - Saí por ai de mão dada com o destino. Voltamos tarde e a más horas.

VIX - Queimo a vida ao ritmo de um cigarro, breve, mortífera, mas saborosamente viciante.

X - E lá estava a lua na noite e eu com ela, os dois tão distantes e sós … mas cúmplices no brilho da solidão.

XI - A juventude é uma virtude dos novos, mas um talento dos velhos.

XII - Fui num beijo, num leve beijo mariposa que nos meus lábios posou, para depois levantar e desaparecer no escuro da noite...

XIII - Se eu me entendesse verdadeiramente como entendo Pessoa, talvez fosse muito mais pessoa do que o próprio Pessoa.

XIV - Toda a luta deve ser proporcional ao desafio que combate.

XV - O BIB BANG deu-se devido a uma flatulência mais forte e imprevista do Criador.

XVI - A leveza da pena é antípoda ao peso da paixão. Contundo, uma pena por mais leve que seja acaba sempre por cair e abraçar o solo. Já a paixão é um peso pesado do coração que teima em levitar sem qualquer esforço o mais pesado corpo humano.

XVII - O Poeta não tem fim na hora da sua morte porque ele apenas nasce verdadeiramente quando morre.

XVIII - Frágil não é o copo de cristal, frágil é o coração do homem apaixonado.

XIX - O fingimento é o sarcasmo da mais pura realidade, pois finge a certeza como se fosse uma mentira perfeita.

XX - Falar bem é: dizer bem de vós, sem voz!!

XXI - As férias são o descanso que o Sol faz no nosso corpo!

XXII - A inveja é um poço de desejo que mata quem nele cai.

XXIII - Poderia ser humano!? Poderia, mas apenas no longínquo ano que ninguém ousa adivinhar no calendário.

XXIV - Perdoem-me os Santos e os Demónios que eu não creio nem no amor nem na maldade!!

XXV - Amo qualquer coisa incerta, imaterial ou espiritual... não me peçam é para amar o conhecido, que isso é demais para mim.

XXVI - Como deve ser temerosa aquela ultima viagem, feita no carro fúnebre, para aquelas velhinhas que por medo sempre se recusaram, em vida, a entrar num qualquer carro.

XXVII - Há corações que são como os preservativos, só foram feitos para usar uma vez.


XXVIII - Como querem ver a beleza se teimam em construí-la a partir da imperfeição?!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Astúcia I

Uma noite, o Zé Coxo disse para um mocho que, ao piar o surpreendeu:
-  Tu sem a noite não és ninguém!!
O mocho, astuto, logo lhe respondeu:
- E tu sem a muleta também...

Sorte I

A sorte é como uma mula coxa, só coxeia se andar.

domingo, 17 de abril de 2011

Às costas da cigarra...

Esta tarde matei a saudade dos velhos comboios,
Dos comboios negros e fumarentos.

Por mais de uma hora permaneci imóvel no apeadeiro…
E de olhos fechados, parti numa longa viagem férrea,
Ao som ritmado do pouca-terra, pouca-terra…

Percorri todas as linhas que costuram a terra
Viajei como um errante viajante…

Mas, de súbito, um inesperado e perturbante silêncio
Pôs término à minha viagem...

Malditos assaltantes das viagens sonhadas
E dos comboios imaginados,
Forçaram-me de regresso ao apeadeiro da minha varanda.

Aí, permaneci ainda uns largos e expectantes minutos, mas nada, já nada se ouvia…
O velho comboio já não se fazia ouvir,
Tinham-no silenciado.

Infeliz a cigarra que, assustada não voltou a cantar
E eu que não voltei a viajar…

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Espelho, espelho cego.

O espelho é um falso.
É uma arma imoral
Que falseia para o mal
O reflexo descalço.

Revela mais do que lê
Na suposta verdade
Que o reflexo não vê
Com alheia crueldade.

De mim ele não troça
Não inventa, nem seduz
E não me faz mossa
Porque eu nem lhe dou luz.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Humanismo


É fácil para o Homem ser humano.
Basta-lhe respirar! Raciocinar! Viver!
Difícil é o Homem não ser desumano
Quando tem tudo a ganhar e nada a perder…

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Meretrizes escanzeladas
Devinham pela rua,
Ébrias e indrominadas,
Anseiam a resposta - a tua!

Desoladas, até dava dó.
Maquilhadas num canto
E enchidas de pó,
Aguardavam em pranto.

Eu, fintei-as em silêncio,
Rasgando as sombras nocturnas
Contornei o grito do cio
Temendo as santas furnas.

Santas, malditas!
Santas, hereges!
Santas se acreditas...
Santas se as eleges.

Eu em Santas não acredito.
Nem na santa que de santa não passou...
E nas noites em que rezo e medito,
Já nem crente sei se sou.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Nefertiti, senhora dos beijos imortais.

Mumifiquei os nossos faraónicos beijos
Em sarcófagos, antigos templos na alma.
Conservei-os com o ímpeto dos desejos,
Deitados na eterna e nostálgica cama.

Na sala da eternidade, imortalizei-os
Para que a noite os consiga encarnar;
E, na pirâmide das memórias, esculpi-os
Onde na penumbra ainda os vou mordiscar.

Os saudosos beijos cheios de fantasia
E o Império erguido nos nossos lábios,
Viverão para lá do além da mitologia;
Quentes, ainda que sepultados e frios.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Nostalgia

Hoje, enquanto queimava, nostálgico, na ponta de um cigarro mais um pouco da vida, acreditei novamente na inocência do amor, quando dois jovens adolescentes se entregaram, nos beirais de uma escada, à imortalidade da descoberta daquele primeiro beijo.
Por breves momentos, voei de regresso ao passado, nas asas da lembrança e, beijei amores tão antigos como verdadeiros...
Foi então que, ao queimar os dedos, recordei que a inocência do amor é tão fugaz quanto a juventude e, outras vezes, tão breve quanto a vida de um cigarro aceso.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eureka!

A matemática é a árvore genealógica dos bichos-de-conta.

Reflexos

Um poema nem sempre deve ser complexo e, impregnado de figuras de estilo e linguagem aprumada. Às vezes, deve de ser apenas um simples espelho mono-função, que existe somente para reflectir o que se encontra à sua frente.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Deixem o defunto em paz.

O ultimo suspiro foi vago, inerte, acinzentado,
Sufocado com a almofado do pó temporal...
As coveiras começaram a comer o corpo inchado
Assim que este caiu no escuro do ultimo beiral.

Da falésia missal choram na reunião de olhares
Os parentes, os amigos, e, até os ódios perdoados;
Reunidos, soluçam de negro, tristes recordares
que com o defunto partem lentos mas soterrados.

Os vermes, esses gladiam-se num farto festim,
Manjando no luxuriante rolo de carne preparado.
- Sem nexo! Agora que a vida deu a mão ao fim,
Os mórbidos enfeitavam o pasto inerte de floreado?

Não sufoquem o cadáver com roupa, flores e choro,
Deixem-no respirar silenciosamente o sono interminável
Apenas com as cócegas das metamorfoses em coro:
Entre as larvas e a sua nudez numa simbiose amigável.

Linguagem viva e fresca

As palavras são içadas pelo pescador
Do Mar alto para a boca viva da praça,
No rebuliço da venda, mudam de orador
Mas mantêm sempre a tradicional graça
Do palavreado asneirento mas inocente
Que na praia da boca rebenta estridente.

A língua enrola-se na linguagem irreverente
E, rola rebola ruidosamente redonda
No palavrão que desmedido salta de repente
Da boca descuidada pela onda,
Oferecendo o sucesso às vendas do mês,
A asneira à praça e o espanto ao freguês.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nas vielas estreitas e antigas
Desta Lisboa erguida em bairros
Nascem amores e cantigas,
Morrem corações...em farrapos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fim...

É no silencio da noite
que voo sobre ti,
Seguído pela morte
desde o tempo em que parti.

Esta morte imaginada
Descalça de sentimentos
Só pode ser tua aliada
Nestes sôfregos momentos.

Odeio-te pelo que sou
Nesta metamorfose de mim
Que começou e não findou,
Silenciosa até ao fim...

Consciência ecológica

Uma árvore é um poço de oxigénio,
Um pilar que sustenta o céu.
Uma árvore chega a viver um milénio
E têm no seu cume um natural chapéu.

De verde perpétuo é Senhora
Das terras da Amazónia e do Bornéu,
É a majestosa Mãe protectora
Da selva com o seu luxuriante véu.

Na floresta serve ainda de lar,
É o arranha-céus da bicharada
E tem mil andares para dar
A quem quiser em si uma morada.

Mas a ganância humana é cega de moderação,
E sem respeito, as cortam, as matam e queimam...
Ai, como é estúpida e inconsciente a pegada humana,
Que não vê que não há vida sem o ar que das árvores emana.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ah, semana brava!!

Cinco dias cortados por dois
Com a faca do descanso,
Adeus árdua semana de bois:
Labor bravo do bovino manso!


De sol a sol só reina o suor,
O povo privado de satisfação
Levanta cedo ao colo do alvor,
E cedo deita por obrigação.


Anda tudo estoirado e farto
Da chata boca do patrão,
A gritar do alto do seu fato
Quase nunca com razão...


Mas por dois dias há tréguas.
É a merecida bandeira branca
E o povo feliz afoga as mágoas
A mais uma semana de alanca.

As rasteiras da beleza.

Na negra praia repousava uma lagartixa.
Aquecia-se roubando o calor ao chão,
Imóvel como a lapa que se encontra fixa
Ao raro descanso extraído da rebentação.

Vestida de verde exibia todo o esplendor
das lantejoulas que lhe adornavam o dorso
e como brilhavam elas à luz do criador.

Mas tamanho encanto quase virava remorso:
É que ao tropeçar no nevoeiro do calor,
Quase pisei o belo luziluzir do seu dorso.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Hoje salvei uma rosa.

Já respirava pálida… desnudada… quase morta da lindeza da rosa.
Curvada Rainha desgostosa, infeliz flor adoentada…
Então, milagrosamente, quase no último suspiro de vida, surge a mão do poeta e num movimento firme de raiva arranca-a aos campos inférteis da prosa;
De seguida, com um gesto terno, replanta-a nos sulcos frutíferos e sãos do poema para que enfim fosse curada.

Agradecida, a flor prometeu, dar o perfume às rimas e os seus espinhos… às mãos que tentassem roubar este poema. 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Reticências...

Eu agora sou três pontos seguidos
E dai para a frente pouco mais,
Mas deixo em aberto os sentidos
Porque os desfechos nunca são iguais...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Automatismos

Ferido! E os riscos da mão...
Descanso ao poeta!
O que escreve não é em vão,
Nem a sua mão é analfabeta.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Biblioteca

Recta sala, forrada de livros
Dos pés à cabeça, repleta de pó,
Foge da luz e dá-se aos ácaros,
Refugiada num silencio que mete dó.

O Criador também brinca

As canoras cantavam em silêncio,
Os corvos passeavam colorida cor,
Até as castradas mostravam ter cio:
- Hoje está Deus cheio de humor!

Ébrio passeio nocturno

Quando o whiskey já têm o sabor da água
E a noite conquista à vida o gosto da sorte,
Somos mortos pela espada da mágoa
Ou, salvos pela seta de um amor bem forte. 

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Esta sentida loucura...

Ó sentimental loucura
Terás cura...!?

Qual loucura?
Loucura, é não saber
Que o amor não tem cura
Mesmo que nos faça sofrer.

Louca loucura,
É eternizar a promessa da jura
Por um sentimento que não dura...
Ó ingenua tontura...

Estranha loucura,
É amar somente na escrita,
Desejar ser através da leitura
E viver um amor eremita...

Perfeita loucura?
Tenho-a eu, em mim
Enquanto a vida perdura
Sem dizer: - Cheguei ao fim!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um a zero ganha o Diabo.

Diria que os olhos do Homem são o Inferno, se me perguntassem o que neles vejo.
Há neles uma escadaria que nos conduz ao fundo do buraco ardente e penoso,
onde o Diabo grita, em delírio, com os pactos que faz entre a alma e o desejo.
E, ávido, sacia-se na sua biblioteca de almas humanas, desfolhando-as orgulhoso.

Também, podia dizer que, é nos olhos humanos que se apanha o elevador da esperança,
E que é lá que se ascende ao interior do céu, à morada da alma e da almejada paz.
Mas, depois, lembro-me: e a guerra, o ódio, a inveja, e a vingança...?
E desisto da mentira porque já morei nos olhos humanos e sei daquilo que o Homem é capaz.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sou feito de nada.
Sou o zero da tabuada.

Eu, roída unha cuspida
De uma mão que é fingida.

Aqui, ali, ou acolá,
Sou feito do que não há.

Uma viajante semente,
A quem o estrume já mente.

Sou um perfeito nada,
Brotado da terra abandonada.

Não sou nada de nada
Mas tudo sou enquanto não acaba.

terça-feira, 23 de março de 2010

Praticar o amor intra-cerebral
É melhor que o sexo carnal,
Consigo faze-lo a tempo todo
Com qualquer fantasia e enredo;
Quando estou no meio da rua
Apinhada de gente e só te vejo a ti, nua
Entre a multidão,
E faço amor sem erecção...
Não há momentos pudicos,
Apenas fetiches lúdicos.
Ah, pura diversão!
Ah, pura imaginação!
É, prefiro quando o amor no cérebro actua
Do que o sexo de dois corpos em capicua.

Se sou louco?!
Talvez um pouco.
Sossegadamente, nua e serena
Olhava o escuro tranquilamente,
- Não sei se seria por gosto ou pena -
Que o admirava assim fixamente.

Prendeu-o no olhar e, iluminou-o.
Abriu os braços e abraçou-o.

Explicou-lhe que era a Lua
E que à noite, era só sua.

A Relatividade do Barulho

A porta é muda mas às vezes chia
Quando a empurram ou puxam,
Fala por vezes mais do que devia
Criando gigante inquietação.

E a silenciosa panela de pressão
Que a frio não solta nem chiadeira
Mas quando a aquecem no fogão
Larga-se em tamanha barulheira.

Já o peido que largamos de mansinho
À espera que ninguém o ouça
Quando foge com obsceno cheirinho
Grita mais que qualquer cousa.

terça-feira, 9 de março de 2010

O mundo agradece às mulheres

Viva a pureza do feminismo
A flor e frágil delicadeza
O erotismo e o sensualismo
As mulheres e a sua beleza.

Viva as barrigas grávidas
Os seios inchados de leite
O colo das mães determinadas
E a dedicação com deleite.

Viva as dores do fecundo
Que elas suportam no útero
São a coragem deste mundo
A luz do amor mais sincero.

Aplauso a todas as mulheres
Que carregam a humanidade
Afinal elas tem super poderes
E são as Deusas da fertilidade.

O céu anda triste...

Chove chove todo o dia
Chove chove sem parar
O céu não tem mais alegria
E não pára de chorar...

As bonecas imorredouras

As raparigas deixaram de ser meninas
Recheadas de inocente meninice,
Engordaram as mãos e as pernas finas
E já não brincam com a traquinice.

Restam-lhes as bonecas de porcelana
Que guardam nas suas memórias
De nomes: Juliana, Mariana, Joana,...
A lembrança de imaginar histórias.

As bonecas fora do tempo são velhas...
As raparigas dentro são mulheres...
As mulheres um dia morrem de velhas...
As bonecas nunca morrem mulheres!

terça-feira, 2 de março de 2010

Do 28 ao Fado

A Cidade está onde sempre esteve
Sentada em si, descansa imóvel
Apoia-se no tempo que a susteve
Intacta, é às suas origens fiel.

No seu ventre desce uma abelhinha
Que bonita é, vestindo de amarelo
Corre o carreiro de si certinha
Desfilando um corpo de modelo.

Mas já ninguém atenta à abelha...
O povo agora trocou-a pela toupeira
Quase só o turista voa ainda na abelha
Do largo da graça à ladra que é feira

Daí, segue para o emaranhado Lisboeta
De ruas e ruelas entrelaçadas
E, é com a Graça a servir de silhueta
Que vê as noivas de St. António casadas.

Desce mais um pouco a ganhar fôlego
E debruça-se nas costas de outra colina,
Passa o café do Poeta do desassossego,
Até ao Largo do Poeta que perdeu uma retina.

Aí já se namora o velho Bairro Alto
É lá que tenho um encontro marcado,
Freia o lento eléctrico e eu veloz salto
Que já se faz ouvir o meu amigo fado.

(Para o meu amigo Paulo Pereira)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Do pássaro, pouco resta...
Só um céu vazio despido,
Pano azul que já não presta
Que caiu com o pássaro abatido.

Choram de tristeza as nuvens
E o Sol está de luto,
Recordam o bater de asas em miragens
Unem-se num ultimo tributo.

Fazem explodir o horizonte
Tarjam-no de colorido,
Em meio circulo a poente
Homenageiam o ultimo voo perdido.

Amanha será outro dia...
Com ele nasce outro piar
O céu volta a ter alegria
Em breve voltará uma ave a voar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Crueldade

A vespa é má...?
A cobra é má...?

O crocodilo é mau...?
O tigre é mau...?

Não!
O animal não tem maldade,
Mata apenas por necessidade
Sem alegar qualquer razão.

Mau é o animal racional,
O único que distingue o bem e o mal.
Mau é o Homem
Porque mata por-lhe saber bem.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tenho ideias que são ideias
Outras que nem tanto o são,
Alternam-se como as ameias
Do topo de uma fortificação.

Às vezes surgem-me aos pares
E visto-as como às meias
Umas não passam dos calcanhares
Outras acabam bem cheias.

Selecciono-as grão a grão
Na imensidão das areias
Para as que encontro utilização
Injecto-lhes sangue nas veias.
Entristece-me ver o cão da minha vizinha
Pendurado à janela numa posição quase humana
E cada vez que o vejo, sinto na espinha
Um arrepio de tristeza que me abana...

Que lagrimas brilham nos olhos do cão?
Que tristeza as puxa a caminho do chão?

Partilhamos a tristeza entre as frentes de janela
Rasgando as diferenças anatómicas de cada reino,
Eu assumo que no pescoço de humano aperta uma trela
Ele despe-se do fato canino na alma de irmão uterino.

Já não volta a sua Dona que partiu!
Já não volta que para o além partiu!

Aceito aquela humana consciência debruçada,
Lavando de choro as paredes do prédio
E solidário visto eu o fato da bicharada,
Porque as vezes, um irmão é o melhor remédio.

Unimos as almas e almas ao choro!
Ele no seu, eu no meu, num singelo coro!

Ainda não tive coragem, numa destas noites, de lhe confessar
As razões porque o acompanho, da minha janela, na sua espera.
Será que ia ele entender-me? - Que eu só espero o amor voltar...
Acovardo-me só de pensar que insisto esperar tal Quimera.

Afinal o cão é mais sensato que o homem!
Afinal o cão também sofre e não é ninguém!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Peva num copo vazio
Foi aspirina para as dores,
Desfez-se a lei que aboliu
À troca de sabores.

A garganta evadiu-se
Da casca do caracol
E o líquido sumiu-se
Nos odores a etanol.

Nesse ultimo trago
Roubado ao copo
O nariz caiu amargo
No sentido do corpo.

A faca falhou o alvo
Mas o corpo é do chão
E o azulejo só é salvo
Pelo copo na mão!

domingo, 31 de janeiro de 2010

Erotismo imaterial

O erotismo do silêncio
É carnal, ecoa prazeroso,
Ressoa no compêndio
De um lençol carnoso.

É excitante ouvir os gritos
Do silêncio carnal
Entre mãos feitas gemidos,
Entre a sua posição fetal.

Os lençóis acatam mudos
A merecida vassalagem
A dois corpos carnudos,
A dois corpos em viagem.

No fim calam-se os gritos
No barulho do prazer,
No fim ouvem-se os gritos
De duas almas a gemer.

Sincera, obscenidade sincera!

O que queria era ouvir a noite a exclamar
As estrelas a dançar eróticas desnudadas
E fazer do véu um estaminé para dançar
Onde tivesse algumas horas bem passadas.

Sem amor nem o nojo da vida meretriz
Só graça de corpos imaginados graciosos.
Sem maquilhagem nem cheiro de verniz
Só a sinceridade da nudez dos fogosos.

Nada de promessas vindas da virgindade
Palácios arábicos ou castelos medievais,
Contos de fadas nascidos de outra idade
Que se somem com o sopro de vendavais.

Apenas o prazer da alegria rítmica nocturna
De não ter juras nem divisar as intimidades
Sonsas e cuspidas do amor, apenas a furna
Excitada, humidade e activa de leviandades.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Agora que morri, usem-me!
Drenem-me o sangue deposto
E com sal grosso salguem-me
O corpo e o outrora rosto.

Vendam-me numa miúda feira
Viva da tourada em frenesim,
Onde tudo se vende, da poeira
Ao pouco que restou de mim.

Ou troquem-me ao desbarato
Entre os restos a despachar,
O que sobrou do triste retrato
Dêem ao improvável mumificar.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A morte nem sempre o é
Há mortes que não o são
Nascidas de gente em pé
São as mortes da tentação.

Mortes rápidas de um fim
Prematuro quase invisível
Que enterram o breve sim
Ante a resposta previsível.

É uma desistência que vive
Numa morte de insistência
E não há milagre que avive
Esses amores à existência.
Deus! Deus? O que não creio!?
Mas que nem assim me descurou
E lá do alto da sua poltrona veio
Pregar-me onde se crucificou.

Pronto, agora que sangro na cruz
Continuo a não crer que sejas o Deus
Das coroas que na pele contraluz
O sofrimento sem fim dos teus.

Devoto? Qual crente meu o é sem fé?
Aquele que feliz nunca o foi até então?
O infeliz que nem a ver crê como Tomé?
Ou o torturado que não crê por aflição?

Deus, só no adeus que hei-de ter
Porque ai, já nada há a duvidar
E nada mais, eu terei a temer
Afinal à terra já fui a enterrar.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sincera escrita, única e verdadeira
Se não fluis livremente, algo se passa
Não me és falsa, nem matreira,
Portanto algo de estranho te ultrapassa.

És refém duma extrema fixação
Que se apoderou de quem comanda
A fluidez do objecto tentação
E mudou a ordem de quem manda.

Eu não o sou e, nem sei quem o é
Talvez nunca o saiba, afinal é difícil
Manter a lucidez do amor de pé,
Na viagem de uma escrita de míssil.

Nada te pensa, contenta ou satisfaz
Andas como o corpo que te alimenta
Ansioso, verde, apaixonado e voraz,
Fixado na impossibilidade que te sustenta.

Aparentemente de leve como o aguaceiro
És devorada rapidamente pelas terras secas
Que nem entregam a terra molhada ao cheiro
E cortam o pensamento a lâminas de facas.

Mas és a prova que há dias que escrevo
Num automatismo fruto da prática
E, apesar de o meu coração ser teu servo
O meu cérebro funciona como uma fábrica.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Gostava de descansar onde o tempo não descansa
Esperar por ele, sentado a ler, talvez um livro mudo
Um livro sem tempo, um livro que jamais avança
Sem a ordem e sem o toque do meu dedo sisudo.

E passava horas sentado numa espera relaxante
Num qualquer café de bairro, onde o tempo passa
De boca em boca, onde a conversa é adoçante
E onde todo o contador do tempo nunca massa.

Um livro, três dedos de conversa e outra italiana
Descansa na mesa, é vício beber o tempo no líquido
Passado entre chávenas caiadas de porcelana,
Já só elas reanimam este estado mole e lânguido.

Lá faço tempo e espero pelo tempo que não chega
Nas entradas e saídas entre portas e distracções,
Porque é no descanso que o tempo sempre se nega
Que eu descanso das minhas preocupações.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Estranho amor que nos meus olhos chora
Extraído do sumo das maças do teu rosto
É da fruta proibida que silencia e devora
O querer abraçar toda a árvore em gosto
Escreveria toda a noite se o sono não me levasse
Para o inconsciente onde o cérebro repousa,
Não descobri ainda cafeína com a qual não embalasse
A ir nesta sonolência impertinente e intrusa.

Assim sereno o lápis e fecho o pequeno bloco
E apago a luz tremule num bocejo dramático,
Já rendido puxo os lençóis para mim mais um pouco
Entregando-me definitivamente a um sono nada pratico.
Atingi que nasci para morrer…
Mas com as luvas que agarro a vida
Tenho a carne que me leva a viver
Esta existência que trago vestida.

Vida boa ou vida má
A acaricio com a minha indumentária
Perfeita ou imperfeita, eu só quero que vá
Durando até à hora da funerária.

Chegada essa hora da procissão
Dispam-me a jeitinho, se faz favor
Que já estou morto mas não sou chão
Onde todos cospem sem qualquer pudor.
A minha cabeça pulsa e aperta
E o corpo arrasta-se moído
Há um mar de suor na testa
Estão os anticorpos em sentido

Sofro sozinho num estado febril
Afundando as dores na cama
Deliro e grito já um pouco senil
Nestas horas que nada me acalma

Acudo o corpo com comprimidos
Receitas, mesinhas e orações
E imploro o perdão dos pecados
Na viagem da febre e das alucinações.

Estranha tristeza

Os meus olhos cerram-se piamente não deixando que deles
Cai-a só uma, uma só lágrima fugitiva e penosa pela face,
Fecham-se em dor, a deles na minha que partilho com eles
Mesmo sem o querer neste sofrimento que me entristece.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Raros os trocos no bolso roto
Que saltam no vazio,
Onde eu meto a mão e o coto
E só sai galinha sem pio.

Os bolsos rasgados do uso,
Os meus que são só dois
E nem à linha os coso:
Inútil é a carroça sem bois!

Servem os bolsos para tanto,
Só os meus não guardam utilidade,
Apenas alojam o pranto
A mais um pobre desta cidade.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Não quero ser de ninguém
Só quero ser meu,
Ser raptado e refém
Da incredibilidade do ateu.

Quero ser, nada!
Esquecimento do mesmo,
Uma memória esquecida
Da lembrança onde tremo.

Vago, eu, assim!
Me sinto e estagno…
No pouco que sou de mim
Na fronteira do signo.

Só isso, um murmúrio.
Quero não ser de ninguém,
Andar só na solidão do vadio
Deste mundo ao além.
Há coisas sem sentido
Buracos negros sem fim,
Como há coisas que insisto
Numa dor só de mim.

E creio que perdido
Ando ainda pouco ruim,
Dai, vou e persisto
Naquilo que já deu fim!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O poeta vem da mágoa
A respirar sob a água,
E do amor platónico
No impulso supersónico.

O poeta vive do choro
E do amor distante,
Na solidão do meteoro
E da sua vida errante.

Ser poeta é não o ser
Sem o fingir.
É querer o amor e não querer.
Ser poeta é apenas sentir…
Não quero saber porque acabou
Nem tão pouco para onde vou,
Só quero ir com os meus ossos
Sem carregar quaisquer remorsos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Volve o dia, outro dia.
Vem nos braços da claridade
A luz da alegria.
Mas o Sol trás a saudade
Da sombra do teu perfil...
És Lua na noite de mil
Estrelas delineadas
E, estão no céu iluminadas
Olhando-nos assim
As estrelas de um céu sem fim…
Acreditar cego no infinito,
Negros olhos os fito,
Olhos amarrados ao suspiro
Do corpo celeste que admiro.
E assim acaricio
As noites dentro a fio
E as baladas de horas
Nas faces que coras.
São noites quentes!
São órbitas sorridentes!
É o brilho momentâneo
De um sorriso de recreio,
Saudade da noite a brincar
Que na tua face ouso enlevar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os desígnios da providência

Quantas almas tem pobres o meu mundo,
perdidas em si mesmas, gritando do fundo
da miséria a que o destino as lançou?
Almas pedintes que a pobreza escravizou
sem lágrima de remorso, nem piedade.
Munida da indiferença de tanto abade
cava valas comuns, sepulta a fé do vivo,
arrasta os corpos um a um sem crivo.
E, tombam os moribundos no infortúnio
a que Deus providenciou como desígnio.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Reflicto na pausa do ser
Em devaneio com o estar
A ir na vista do parecer
No meu cérebro por limar

Dou voltas e voltas, soltas.
Eu ando por lá em fixação
Transporto-me nas voltas,
Levo o meu ser em migração

O meu migrou, eu fiquei
À espera da sua boleia
Sentado imóvel esperei
Como um preso na cadeia

As grades que não corto
são a vigia desta prisão,
Que me isola a um canto
No espaço exíguo da razão

Encaro uma fuga perfeita
Nestas folhas que rabisco
Porque é onde me ajeito
A tentar uma fuga de risco!
Um homem nu pelo tempo
Passou, pisou, evoluiu…
O mundo já não é como ele o viu
Um simples passatempo

Da pedra dura achou o tronco
E o acaso deu o lume,
Até isso, era um ser bronco
A isso a historia o resume

A pré-historia selvagem findou
Mas não os seus impulsos,
A Humanidade alguns guardou
Para as vezes os soltar a soluços

Ó moderno Animal de fato
Que coexistes hoje em dia
Porque insistes no facto
De ainda víveres em selvajaria?!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Alguém se recorda?
E, alguém dança!?
Vá, puxem a corda
Da vossa lembrança!!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Fui num beijo, num leve beijo mariposa, que nos meus lábios posou, para depois levantar e desaparecer no escuro da noite...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

As miragens que se iludem
E os desejos que vagueiam
Na alma minha se poluem
E no meu corpo escasseiam!

*

Escrita esta tão muda
Que se esvai de mim
E não há quem acuda
Este monólogo ruim!
Já jovem não sou, nem ainda
Sou velho, estou a meio-termo
Como a água que foi aquecida
E arrefece dentro do termo

Olhando para a idade passada
Já me faltam os dedos
Que datem o tempo de vida;
Velas certas e aniversários!

Quantos mais para a frente?
É uma incerta questão
Que a vida tem pendente
Na sina da minha mão…

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Não é a dor que dói, nem o véu da tua distancia,
E, como é longo e escorrido o teu amargo tecido.
Envergando as saudades de uma estranha agonia,
Rara transparência Saturno, contrafeito anel ferido.

Os teus cabelos e a quimera que ainda guardo deles
É que são os Reis da luta expugnável, que tomou,
O meu reino em ausência, o meu olhar em cicatrizes,
A minha dor na dor, no castelo dor que desmoronou.

Elos dourados e fatídicos, feitos em armas ferozes,
Anéis de oiro valiosos, campos de joio já distantes
Feitos planícies da fome, onde ecoam apenas as vozes
Das feridas, os contundentes ais dos carnais golpes...

Antes júbilo, depois alimento, e agora, longínqua visão.
Fugidio horizonte dourado que persiste em conquistar
O universo num eclipse solar, e todo o absoluto a extasiar,
Uma saudade que não é dor dos teus cabelos veneração...

domingo, 4 de outubro de 2009

Sou anjo, sou Demónio
Sou carne em pensamento.
Sou paz, sou ódio
Sou amor em tormento.
Que fogo selvagem emana assim,
Cego. Inquietante, pronto a consumar.
Queima o silêncio do manto do capim.
Que fogo é este sempre a queimar?

Mortífero. Uma carga de cavalaria
Veloz. Um raio de luz.
Galope selvagem no que ardia
De crina bela, como seduz!

Fogo! Fogo! É quente vermelho.
E veste mais cores,
O vaidoso fogo ao espelho.

Ah, como queimas! E como feres
Os sonhos do sonhar fedelho…
Afinal o que de mim queres?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O meu silêncio é anseio
É um medo de seguir
Um silêncio que é freio
Daquilo que pode surgir

É a timidez das palavras
Perfeitas arestas de mim
No absurdo vão bravas
Cruéis de mais, enfim…

domingo, 27 de setembro de 2009

O presente ideal

Merecias uma prenda
E eu ofereci-te um piaçá
Aceita esta oferenda
Que mais útil não haverá

É um utensílio multiuso
Indicado para a sanita
Mas podes dar outro uso
Que não a de limpar caganita

Pode ser escova higiénica
Para lustrar os dentes e os pés
Limpa e dá para a estética
Só tens de esfregar de lés a lés

Não tem o valor do ouro
Nem a beleza do diamante
Mas em momento de apuro
Limpa tudo num instante.



(brincadeira a amiga Diana no seu aniversário)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Desculpa o silêncio íntimo da dor
O meu ir na palma da meiga mão,
O brilho dos negros olhos confusão
Que se cerram num extremo dissabor

Desculpa o silêncio íntimo da dor
Pregado no meu peito como louvor,
Desculpa a magoa que dissecou
O ser aquilo que hoje sou

Desculpa divino Deus
Que a carne gelou
No frio do adeus…

Desculpa o desculpar imerecido,
Que tentei acordar o adormecido…
Aluguei um quarto
Cá no alto bem de mim
Na janela está o retrato
De uma vista sem fim

É um quarto móvel
De planos minúsculos
Mas dá noite de hotel
Para ócio dos músculos

É um cubo dos sonhos
Concedidos na cama,
Tristonhos ou risonhos
São suores do pijama

Com quatro paredes
Eu tenho um aposento
Onde não há hospedes
A descansar ao relento

Sou apenas eu no alto
Acamado no meu espaço
De onde as vezes salto
Para oscilar do que faço.

sábado, 5 de setembro de 2009

Às Poetisas!

Ó Poetisas presas na marcha
Nessa parada desalinhada
São linhas presas na borracha
À guerra farda encarregada

Revoltas armas em riste
Em batalhas moribundas,
Exactos tiros no rosto triste
Em frágeis covas colectivas

As poetisas livres na marcha
Heroínas! E um busto que jaz.
Recebem louvores na flecha
Alvo! Fumo do cachimbo da paz!

Despojadas das casacas sujas
De suor, lágrimas e sangue,
Revivem nas asas das corujas
Hora nocturna livre da morgue.

Ó Poetisas lusas em cadência
Lutem na guerra das palavras
Eternizem o feminismo fluência
Em poemas medalhas e honras!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

É ponto de encontro este estabelecimento
De histórias e gentes, na rua da Primavera.
É encosto prato bebedouro aquecimento,
O botequim onde o convívio é rei e impera.

Sobe os degraus e aproxima-te do balcão,
Pede um petisco e, se tens sede uma lambreta.
Aconselho a caracoleta assada e o berbigão
Petiscos deliciosos quando nus da vestimenta.

São delícias de chorar por mais, experimenta!
Ou queima uns dedos de conversa, um cigarro,
Não é sustento ainda assim embala e alimenta
A alma, como o copo se nutre do amigo jarro.

Entram velhos, novos e toda a gente da terra,
Onde em dia de jogo guerreiam goelas ornadas
E, altivas de seus cachecóis vêem qual mais berra
A gritar: - GOLO! … (até bradando bolas azaradas).

É alegria, é vida, é corrupio nesta freguesia,
Do lugarejo faço sitio de confraternizações,
Fogueira da amizade, agitação e, até terapia…
Ó abençoada cervejaria Simões!

(Aos meus amigos Pedro e Cidália)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Verde, verde, escuro musgo
De um sapo fugidio,
Sapo rápido e ofusco
Com medo da água do rio.

Sapo belo de uma beleza
Nada feia no retrato,
Sapo esguio de magreza,
Mas vaidoso do seu fato.

Sentado numa pedra lisa
que é mimada pelas águas,
Ele sonha e visualiza
O evaporar das suas mágoas.

Verde, verde, as suas lágrimas
Do rio da sua vida,
Revolto no estreito dos dilemas,
Corrente traiçoeira e fingida.

Sapo, sapo, moreno verdinho
Ri-te, ri-te e, mais não chores
Que ainda és um doce sapinho
E na água desaguam as dores.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Toda a existência é meramente metafísica
Consumada de uma relatividade selvagem.
É de uma precisão realmente cirúrgica,
Do molde do elefante à elementar aragem.

A ida é caminho no intervalo metafísico
O regresso é o destino da volta,
É jardim, selva, horizonte paradisíaco
Para quem passa e ressalta.

Não há donos, nem senhorios
No fundo das escadas da remota planície.
Não há capitães, nem remos
No rio que desagua vindo do vértice.

Há obstáculos encorpados, reais
Pulando da rotina dos mortais.
Há viagens transversais roubadas
E outras por fazer ou inacabadas.

A rotatividade da existência é incerta
Mas o giro dela é constante,
Predispondo para uns uma paisagem deserta
Como o pó jaz em espera numa estante.

Eu escapo na paragem dos átomos
Levado pela energia da bestialidade,
A fé é retirada dos sagrados Salmos
Que eu vou a pé mas com objectividade.

Erro! Mas sigo e calco incógnito caminho.
Não lamento o meu endereço astral
Que há-de aparecer com uma certeza abismal,
Porque só eu mando antes do desalinho.

domingo, 23 de agosto de 2009

Ouça Ministro, o povo a lastimar!
Ouça, o descontentamento geral,
nas vozes de quem tem de labutar
neste Pais que é tão pouco social.

Parece que hipotecou o seu ouvido.
É pena, Sr. Engenheiro!!
Que teimosia a sua de ser surdo
com os seus ouvidos de ferreiro.

As suas mentiras são nódoas,
manchas que borram o meu Pais.
Pobre Nação que ficou de cuecas
com as suas políticas sociais.

Diz-se licenciado em Engenharia...
Eu, digo que é em censura camuflada,
e que o senhor exerce com mestria
sempre que se mete numa alhada.

Incinerou a pasta do ambiente
com o fogo de presunção,
como Primeiro Ministro não é diferente
E, ateia ainda o caos à governação!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sr. Doutor! Ou chamar-lhe-ei Sr. Engenheiro,
Daqueles criados ao domingo no palheiro.
Ó pesado fardo de palha incompetente
Que saiu da Universidade Independente!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Embalo a bigorna no arrastar do passo
A cambalear nefasto na rua amarga,
Da noite quase dormida. (ó erro crasso);
Haverá milagre matinal que erga:

O tino, os olhos, e as forças adormecidas,
Em oposição à necessidade impropria,
Da obrigação laboral que moí e, remoí o dia,
Como sentença das horas do sono perdidas.

Penoso sono no arrepio da corrente fria
Que tremelica e teima a todo o segundo
Molestar a força sonâmbula, numa teimosia
Negra e faminta do meu corpo moribundo...

Quase morto, moribundo
Despertar lento e profundo.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Perdido, remo dentro da taça vazia
Onde luto para sobreviver à tona,
Mais um dia, … apenas mais um dia,
No liquido onde meio mundo ressona.

Nado, em esforço num permanente circulo,
Esbraceja-o aflito o meu corpo em choque,
Respiro, … afogaste-me, que respiro fulo
Porque sei que sufoco sem rei nem rock.

Espero, uma garganta que seca beba
Gole a gole, a saciar tremendo sufoco,
Quem sou, e mesmo que não o perceba
Tome tudo em salvação de um louco…
Embaralho o fim do baralho
Nas cartas de uma sequência
Umas vezes acerto outras falho,
É a sorte casual desta nada ciência

*

Reflexa filosofia dogmática
Quase inflexível de certeza.
Mas há a flexível hipotética
De ser quase uma incerteza...

sábado, 25 de julho de 2009

Espírito lastro maligno,
No breu do fundo lago,
Afundas o que é digno
Abismo castro castigo

Tinta que a pele tatua
Mole e desprotegida,
Colora maldade crua
Maleita ré enfurecida

Agua numa pedra doce
Esculpida na estalagmite,
No tecto parasita nasce
No amor do chão insiste

As colunas petrificadas
E as vigias da amargura
São tatuagens salgadas
São apenas pedra dura.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ameno rato mês de Julho
Que sopras em vento o ar,
Andarás louco em barulho
Sem saberes quando parar?

É o diabo que anda à solta;
Assim diz a voz popular.
Revolve tudo a sua volta
Sempre que teima espirrar.

Anseio a vinda do outro mês
O Agosto caldo tórrido,
Que aqueça o clima de vez
Neste verão quase esquecido!

sábado, 27 de junho de 2009

Fecho os olhos e vejo, e sinto, e divago
O infinito do meu pensamento,
E, fecho os olhos e viajo além do vago,
Do que me consome o sentimento.

Nem assim paro, nem escuto, nem vou,
E consumo em pranto tudo o que sou.
E nem assim fico, morro ou vivo,
Muito para o além daquilo que sirvo

Louco, abro-os e olho perdido no escuro
Da mente nebulosa da reflexão,
Das noites que não me mato, nem curo
Vejo que continuo espírito ilusão.

E nada vejo, além alma, além tempo
A não ser uma vida passatempo,
E nada apazigua este tormento,
Que vive por mim neste segmento!
Parti a ponta do lápis
A rabiscar a descrição,
Da alegria quando ris,
Essa força da emoção.

Persisti mesmo assim.
Na escrita do sorriso,
Agora faço-o a marfim,
A descrever o teu riso.

Exótico e espontâneo,
Inocente e desafiante.
Perfeito momentâneo,
Ó energia estimulante!

Eternizo no poema,
A sorrir retrato alegria.
És tu na síntese tema
Em sorriso de poesia!

terça-feira, 16 de junho de 2009

É quando te esgueiras nos hiatos da razão
Que eu respiro em sufoco,
Abandonado neste corpo sem compaixão
A macerar um sabor de louco.

Que invoco, dores, amores e ânsias
Nos mil cigarros em suspiro tragados
E espero-te, em amargas demências,
Por teus impetuosos momentos iluminados.

Apodera-te do objecto aos bocados,
Encripta-te eternamente cá no fundo
Que eu não vivo, sem os teus pecados.
Surge, não gosto de pensar mudo!

Inspiração… inspira-me!
Retorna em divina vontade ao meu pensamento,
Na humana consciência, abraça-me!
E, revolve-me o espírito em alento.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Já o sei, nem sou mais gente
Sou um nada perdido em tudo
Um prefixo afastado da frente
Nas noites que ainda me iludo

Sou uma palmilha sem sapato
O fim de uma rua sem saída,
Na senda que faço sem trato
Em mais outra noite perdida

Uma inútil chave fechadura
Do acerto de um desencontro
E o que não sou lá perdura
No ser que não sou cá dentro.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Adormeço na latência do beijo
A salpicar rebuçados de amor
Doces que alimentam o desejo
Cobertos com açúcar de ardor


*

Guardava comigo o teu sorriso
Fechado numa lata de conserva
Abria-a sempre que era preciso
Era a minha alegria de reserva

*

Segue o meu compasso
No desenho do coração
Segue o círculo que faço
Em redor duma paixão!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Na mão a pasta negra
com as fitas a espreitar
É a tradição que alegra
Fitas coloridas a bailar

É a vida de um estudante
É a bênção já da saudade
Ó momento importante
No adeus à universidade

É o mudar de uma vida
e as lembranças a viver
No canudo a despedida
E quem não vais esquecer

Queima a fita que escrevo
nas chamas do sentimento
Faz dela a sorte do trevo
e teu anjo a todo o tempo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Compareço na tua pessoa
A pousar tímido em teus olhos,
No voo raso da ave que voa
A rasgar os teus céus cristalinos

A cada visita que em ti faço
Enriqueço nas tuas pérolas,
Adiro nas gemas do teu traço
A contemplar belas maravilhas

Alojava-me tão timidamente
Como já o faço a cada olhar,
Enroscando-me assim suavemente
Na beleza tua que ouso admirar.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Amanha se pudesse mudava o mundo
Mas antes metia-lhe travões a fundo
E depois a pontapé a girar ao contrário
Para desfrutar um inverso calendário.

Onde os anos cabiam dentro dos meses
A roubar a desumanidade do Homem,
Onde os dias eram apenas as sementes
A brotar bondade na vida do Homem.

Fazia do ódio amor e do amor eternidade.
Fazia da riqueza pobreza e vice-versa.
Já os velhos eram crianças sem idade
A morrer e a crescer da forma inversa.

Era o mundo a fazer de universo
Nesta imperfeita rotação mundana,
Era toda a existência num reverso
Mas decerto muito mais Humana!

Doce fado

Saudade do pingo orvalho no peito
A deslizar carinho fresco no coração,
Saudade da fresca brisa do teu jeito
A refrescar-me amante de tentação

Saudade da primavera do teu olhar
Do alegre ser das flores a prometer,
Saudade de ver as noites a fantasiar
Com o nosso beijo até o dia nascer

Saudade da tua maldade bondosa
A morder o meu corpo anestesiado,
Submisso nessa tortura carinhosa.

Saudade da tua meiguice rebuçado,
A suavizar o desejo da boca gulosa
Que ainda te prova neste doce fado.

sábado, 11 de abril de 2009

Gosto da química que paira
Na essência do olhar,
Do teu que nos meus pára
A ver o meu a sonhar…

Ir num passo contente
Só para ver quem sou
No teu molde ardente
Que do nada me moldou

E o assobio que se ouve
É a alegria a assobiar
Da química que houve
No namoricar do olhar

Gosto da química que paira,
Do caminho do futuro,
Ao fazer forma verdadeira
De quem gosto estou seguro!

terça-feira, 31 de março de 2009

Confusões

Há muito que larguei o meu corpo físico
Para que ele pudesse ondear livremente
Nas águas incertas do espírito esotérico,
E, não sumisse no tufão da minha mente

Cortei as amarras do barco ancorado
No porto dos pensamentos fustigados
Deixei-o ir, à deriva foi nas ondas levado,
Desapareceu em ensejos nunca navegados…

Foi no sopro incorpóreo, partiu no amanha das velas,
Ainda sinto o seu peso, mas já não incomoda...
Agora, bóia heterogéneo à tona das aventuras,
Que o corpo é azeite e, a água é minha alma indomada!!

domingo, 15 de março de 2009

Todas as flores iram murchar
Assim que as olhares com firmeza
Não será com medo do teu olhar
Mas com ciúmes da tua beleza.

*

Bom pastor protege-nos na ida
A parte da viagem mais longa,
Guarda o teu rebanho com vida,
Que hoje não é dia de folga!

*

Aldrabão nas cartas,
A jogar e a falar.
Mentes que te fartas
Até alguém te apanhar.

*

Dezoito e dezoito
Ambas idades adultas,
Vendem as duas o coito
As meninas que são putas!

sábado, 14 de março de 2009

Como queres o sonho se não sonhas?
Como? A imaginar no vazio!
Nas ruas desertas onde caminhas,
Não ouvirias sequer um pio

Acorda da tua incerteza retorcida
Por tudo o que não tens mais,
Nesse labirinto sem saída
Dar só mais um passo nunca é demais.

Ainda há sonhos a sonhar
Vidas a sentir, arrepios, … ah, sonhos!
Os teus! Reais…? É um ir ou parar…
Não é bom sonharmos que estamos vivos?

E sonhar uma película de cinema?
Tu e Eu! A despertar o sonho...
Num ovo! Que da clara e da gema
Sonha nascer um pinto risonho.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Podia dizer que te amo mil vezes
Escreve-lo nas costas de um anjo
Na praia, na lua, na fala das flores
Até tatua-lo no peito de um arcanjo.

Podia dize-lo por todo o universo
A viajar nas rotas dos meteoritos
Gravado em prosa ora em verso
Para voar aos sítios mais recônditos.

Podia grita-lo até a voz se render
No uníssono timbre da trovoada,
Audível até para o frio de Júpiter
Durante bem mais de uma década.

Podia mostrar-te o quanto te amo
Fazer tremer as pedras da calçada
Levitar com a voz um hipopótamo
A gritar quero-te como namorada.

Podia roubar o pôr-do-sol para ti
Dar-te o coração em jóia de âmbar
De um vermelho encarnado rubi
Para só tu os poderes ver brilhar

Podia! Ah, bem que, podia mesmo ser
O possível que julgas-te impossível,
Ser até o teu sonho a rejuvenescer
Fosse a tua alma mais receptível...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dizem que tenho a liberdade
Na escolha do ser e do fazer
A vida lá diz que não é verdade
E que tenho muito de aprender

Descobri mais uma praga
Nesta sociedade democrática
É o neo-Patrão da sobrepaga
O alvo desta dura critica

Se um chefe ainda tinha lógica
Já mais que um é injustiça
Ó que sociedade tão irónica
Que rende mais viver da preguiça

Escravos já não são os negros
Que trabalhavam sem receber
Agora os servos são todos
Até os que estudam a valer!

Hoje dissimulam a escravatura
Nas empresas de trabalho temporário
Que quase nos retiram a dentadura
E retêm-nos um terço do salário

E se estas chicotadas já nos doem
Ainda alimentamos outros chulos...
São donos do País, falam e nada fazem
Mas comem mais palha que certos asnos!
Uma estátua que chora vida
No alpendre do museu deserto
Plantado no meio da avenida
Da solidão paralela ao tecto

Uma carroça de cavalo nenhum
Exposta, rabuja patas para cima
Admirada por um só bêbado a rum
O único quem a cultura estima

Gira nos passos de naves amplas
De um museu a gritar por socorro
Onde ecoa os pregos das solas
E tanta cultura presa num aforro

Cultura rara num sono profundo
Que teima ressonar dos tostões
Vive do interesse nauseabundo,
Ah, cultura Lusitana de calções!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Deitada foste tempo numa história
E nos lençóis rasgados do horizonte
Farrapos feitos no céu da memória
Entre os teus seios edificada ponte.

Escreve o teu corpo com as nuvens,
Algodão doce que derrete na boca.
Faz refém as chuvas, tuas paisagens,
Num dilúvio que me afoga e sufoca.

Imagino o teu corpo deitado no meu.
Eu escrevia-o sem erros. Ah, perfeito!
Fundido na sesta do amor adormeceu
E no sono do colo diluiu-se, liquefeito.

Imagino a overdose a que o condenei.
Nos lençóis, páginas do meu diário,
Escrevi as palavras em que guardei
As tuas curvas, essência do meu ópio.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Vento trás as lágrimas
A saudade, a nostalgia,
Aviva-me as lembranças
Na alma como por magia

Assopra aquele arrepio
Da emoção a relembrar
A alma quando te viu
E o coração a rebentar

Nessa tempestade inicial
Onde tu foste relâmpago
E, eu um fio de metal,
A guiar-te como mago.

Vende-se!

Vende-se corpo usado
Com coração esgotado,
Cérebro entorpecido,
De Interior maltratado.

Vai ao melhor preço,
A quem o quiser levar
A paixão eu ofereço,
É de pegar ou largar!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

A feltro, a carvão
A soluço, a permanente.

O grito, o eco, ó solidão
Ó bagaço, ó aguardente.

A compasso o mausoléu
Há elipses imutáveis.

A penitência ante o réu
Injustiças insuportáveis.

A pólvora, a serradura
Ardem num ápice.

A sentença, a bravura
E a forca no coice.

Às variações/ Ao variações

Interlúdios, variações das sensações
Estar nu, vestido, vazio e até cheio
Marchar em corrupio atrás das razões
No sentido de uma vida crua a meio

A sensação de não querer ninguém
Naquele intervalo amargo da paixão
Onde estou mal quando estou bem
Neste parecer meio real ou ilusão

Viciado no estupefaciente da ressaca
O pensamento frenético da indecisão
Que fecha uma entrada sem tranca
A gostar do sentimento sem emoção

Variações companheiras antípodas
Nos intervalos do salto de uma mola
Em que a bússola aponta as loucuras
De um pássaro livre preso na gaiola.
Cidade querida, menina esposa
Encantada e berço dos amantes
Escritores redigem-te em prosa,
Os sete peitos, os teus decotes

Elegante desfilas a férrea linha
Onde o eléctrico enamorado,
Beija o teu ventre de libelinha,
A chorar um inconsolável fado

As noitadas dormidas no teu ninho
A escutar os segredos das épocas
Confissões amigas do sabor a vinho
Perfume de inúmeras catacumbas

Lisboa menina amante e senhora
Nas calçadas os mundos encantas
No adeus um não quero ir embora
Que não és a mesma em aguarelas

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Enredo de cabelos numa mão fechada
Aprisionados com a força de Hércules
Uma meiguice sobrenatural liderada
É o crer dos Céus na mão dos deuses

Novelo de ouro e candelabro dourado
Que reluz luzente luz em mão cerrada
Teu castiçal pinga um calor iluminado
Sob a tua flamejante manta alongada

Xaile-manta ímpar que endoida os anjos
Que treslouca os Homens e os Imortais,
Até Divas que vêem acima de teus ombros
Os choram por não desfilarem uns iguais

Urdidos das fibras de novelos narcisos
São Reis da luz do sol, o tal fogo vassalo
Meus dedos são servos agulhas nos cabelos
A errar nos jardins suspensos do teu Halo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Nasce Poesia

Fôlego Poesia,
Habito Poesia,
Estimo Poesia,
Gemo Poesia...
Sangro Poesia!
Enxergo Poesia,
Absorvo Poesia,
Consumo Poesia,
Enleio Poesia,
Gozo Poesia,
Asilo Poesia...
Apalpo a Poesia?

E vivo Poesia,
Pereço Poesia...
Ressuscitas-me Poesia?
Olha, eterniza-me Poesia!!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A cada coisa, o seu par!

A cada erro, cada cruz
A cada gota, uma chaga
A cada vida, um capuz
A cada amor, sua adaga

A cada veneno, o antídoto
A cada sorte, um número
A cada bingo, o seu loto
A cada Deus, o seu venero

A cada dedo, o seu anel
A cada Homem, sua vida
A cada amante, seu infiel
A cada adeus, a despedida

A cada cheiro, seu perfume
A cada doce, o seu açúcar
A cada casal, o seu ciúme
A cada paixão, um recordar

A cada vício, a sua ressaca
A cada gesto, um outro teu
A cada corte, a lamina faca
A cada olhar, retribui o meu

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Na tempestade surge o bordel
Onde naufragam amores mortais
Heróis marionetas a cordel
Corrido o pano teatro de um cais

As ampolas, ânforas, arcas
No abismo segredos guardam
Repousam com as mãos nas ancas
Serenas do valor que afundaram

De musica as caixas das Sereias
Onde os peixes são bonecos
De trapos feitos das meias
Roubadas das coxas dos eunucos

Algas verdes, sombras castanhas
Que lhes servem de perucas
Nas unhas retratam as manhas
A nudez que escondem nas nucas

Desnudam-se em prata, em oiro
Mitológicas prostitutas salgadas
Vendem o útero, vendem o coiro
São até travestis vestidos de fadas

Nas escamas envergam as jóias
E os penhores dos mais maricas
Nas orelhas penduram as bóias
A honra encerram-na em conchas

Surram de ego o pecado do sal
Que roubam no fundo do mar
São as impuras ninfas do mal
As prostitutas de quem as pagar!

Ao Johnny Vector

Prejuízo partidos os copos
Ebrios, nus, a gozo tragados
Queimam no cérebro já loucos
A fugir dos supostos lucros.

Poema acróstico

Um dia redijo uma ode em teu nome
Com toque, gosto, cheiro e sabor
Onde revelo o teu sobrenome
Nas notas da música de um tenor.

A letra inicial, advém da palavra Mar
Vem com o movimento das ondas,
Deitar nas praias, o cheiro a rebentar,
Branca, pura de sete vagas cristalinas.

A segunda, serve de inicio ao Abecedário,
Companheira do começo da amizade.
É alegria de mãe a ver o filho no berçário,
Meiga letra, repleta de sinceridade.

A próxima, veste a Riqueza do rico,
Pobre é, ao rivalizar com o teu sorriso,
O brilho dos raios do sol, luz que não abdico
De ver, para confortar-me sempre que preciso.

Segue-se a senhora das Tentações,
Do travo, do tacto; da tranquilidade,
Que o crente deposita nas orações.
- Toma! (O inicio do simples gesto de caridade)

A última letra, faz jus à sede do Amor,
Dá a força ao aço, e o mistério à alma.
Ó Cupido, trás a menina do nome, por favor!
Que só saber o seu nome, já não me acalma...
Jardim ruim,
Enfim marfim
Motim boletim
Ruim enfim…

Fim bandolim
Ruim cornetim
Fim bandolim
Ruim cornetim

Tlim trampolim
Pudim patim
Enfim fim
Fim enfim


Amendoim
Botequim
Frenesim
Jasmim ruim

Festim…
Rim…
Fim…
Enfim…

Pim, pim, pim...

Aponta, dispara, morri...

Curtas e pequenas
Fuscas e dilemas
Cabeças a girar
Crânios a rebentar

Roleta que é russa
Tiro fino certeiro
Quase que é musa
A espia do roupeiro

Almofada a espreitar
O prefacio que mata
O descanso a deitar
Em pesadelo que farta

É malvado no furto
O sono sonâmbulo
É estridente é surto
O tiro de onde pulo

Dispara em não sono
O pesadelo de mim
Não há amor colono
Colete p´ra bala ruim.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Andei...

Numa estrada,
De asfalto ebulição
Longa, esticada,
Dorida em escaldão

Traços descontínuos
Brancos a giz,
Divide dois sentidos
Ó obra sem cariz!

Ó tapete alcatrão!
Ó ladra dos sapatos!
Ó passadeira reflexão!
Ó mapa dos Peregrinos!

Regista estes passos
Os que ai, eu deixei,
São visões de cegos...
Mas que lá passei, passei!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fotossíntese católica

Na mão desfolhada a vaga luz
O surto do espirro que produz
O encerrar dos olhos quimonos
Nas folhas o cair dos Outonos

Despidas as florestas corporais
Ao sopro de ventos agnósticos
Em Striptease folhagens imorais
No som vago de matos acrósticos

Das túnicas verdes ressequidas
O soalho com carpetes esticadas
O castanho cegueira da ecologia
Abre-te clarabóia luz que procria

Vagamente a claridade vã divaga
Em Deus luz vassoura peregrina
Clareia o tojo em promessa paga
Deixa brotar a clorofila fé divina.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Pérfidas auras de anjos mortos
Criptas agrestes solos depostos
Auras negras solitárias em fuga
Erguidos contos na sombra ruga

Corpos audazes na sina do fim
Mortos em pielas perfumadas
Nesse feno extraído do capim
Dos seios de prostitutas amadas

Agoniante bagaço cerebral
No alguidar bebido do mal
Ébrios demónios sentimentais
Farrapos na pele de animais

Crentes bebedeiras inanimadas
Fruto da árvore morta no deposto
Meninas nas ocasiões afogadas
Dormem-me nas olheiras do rosto.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Zombie

Meia-luz entre olhares
À cadência de caracóis
Estendais de pestanas
Pálpebras feitas lençóis

Há cegueira degolada
Nas esferas da secura
Noite que rola agarrada
No espasmo da fartura

Dormência de tanto nada
Seca em bafos noctívagos
Tudo de nada, tanto nada
E tudo a trote de ímpetos

Olheiras em cordas nuas
Nos baloiços dos estendais
Que folgam nas fachadas
Os duros tributos prediais

Tanta dureza, eu não posso
Que oscilo na corda bamba
Fio-de-prumo estica o fosso
Que estilhaço eu frágil bomba.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Cópia

Sol, prazer, luz
Espelho em reflexo
Alma que reluz
Imagem de nexo

Lua, dor, breu
Imagem de imagem
Luz que rompeu
Tudo na miragem

Vidro num tratado
Deserto espelhado
Amarro na escrita
A imagem infinita

Sol, Lua, prazer e dor
Ver-te cópia nua,
Imitação, nudez, pudor
A presença que é tua!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Amargo

Unha e carne
Sebo e dor,
Acre vinagre
Copo de suor.

Tornos e dedos
Roídos de aperto
Ferros nervosos
Anéis sem acerto.

Carne e unha
Dor e sebo,
Ó testemunha
Ignóbil Diabo.

Carne pecado
Doce mel,
De frasco fiado
Sabor a fel.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Alpinista

Escalei os Pirenéus dos teus dentes
Cobertos de neve, imaculados.
Conquistei os virgens cumes,
Repletos de branco, inexplorados.

Níveos alvos castos,
Até então desconhecidos!

Actividade Paranormal

Tudo era calmo, tudo dormia,
No negro infinito, nada mexia.
A noite repousava nas folhas congeladas,
Das copas, de árvores em gelo petrificadas.

Havia vagões de energia, vazios,
Margens secas, em silencio os rios,
Nada mexia, nada que se ouvisse,
Nenhum espectro que eu sentisse.

Nem arrepios, ou esqueletos a tremer,
Nem sinal de buracos negros espaciais;
Tudo era um feixe negro por acender,
Tudo era calmaria, de nada Carnavais.

Eis que um mocho surge no escuro
Alisando o denso nevoeiro,
Voando cego, não enxerga o velho muro,
Tropeça, e cai estridente num salgueiro.

Que foste tu fazer? (Perguntei eu),
Já a caminho vinha o susto desmedido.
Perdoa-me! (Foi a resposta que deu),
Renascia o medo desse bosque perdido.

Extasiamos imóveis, repletos de medo,
Nas espinhas um carreiro de formigas,
O coração a galope de cavalo assustado,
Que quase nós matava ao som de balas.

Havia todo um Saara na minha garganta,
Um nó cego que estrangulava e apertava.
Era um pânico em ataque que rasgava,
No percurso do chiar da velha porta.

E surgiram em bandos, imensos fantasmas,
Num estouro de actividade paranormal;
Sustos em vagas de estranhas criaturas,
Residentes numa dimensão sobrenatural.

Tudo ficou louco, tudo mexia agitado.
Um remoinho vulto da energia do Além
Rodopiava gracejando entusiasmado,
Das forças de quem eu vivo refém.

De súbito como surgiram, evaporaram,
Todos eles, todos da freira decapitada,
Ao marujo sem perna... todos sumiram
De volta à sua mansão assombrada.