domingo, 17 de abril de 2011

Às costas da cigarra...

Esta tarde matei a saudade dos velhos comboios,
Dos comboios negros e fumarentos.

Por mais de uma hora permaneci imóvel no apeadeiro…
E de olhos fechados, parti numa longa viagem férrea,
Ao som ritmado do pouca-terra, pouca-terra…

Percorri todas as linhas que costuram a terra
Viajei como um errante viajante…

Mas, de súbito, um inesperado e perturbante silêncio
Pôs término à minha viagem...

Malditos assaltantes das viagens sonhadas
E dos comboios imaginados,
Forçaram-me de regresso ao apeadeiro da minha varanda.

Aí, permaneci ainda uns largos e expectantes minutos, mas nada, já nada se ouvia…
O velho comboio já não se fazia ouvir,
Tinham-no silenciado.

Infeliz a cigarra que, assustada não voltou a cantar
E eu que não voltei a viajar…

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Espelho, espelho cego.

O espelho é um falso.
É uma arma imoral
Que falseia para o mal
O reflexo descalço.

Revela mais do que lê
Na suposta verdade
Que o reflexo não vê
Com alheia crueldade.

De mim ele não troça
Não inventa, nem seduz
E não me faz mossa
Porque eu nem lhe dou luz.