terça-feira, 23 de março de 2010

Praticar o amor intra-cerebral
É melhor que o sexo carnal,
Consigo faze-lo a tempo todo
Com qualquer fantasia e enredo;
Quando estou no meio da rua
Apinhada de gente e só te vejo a ti, nua
Entre a multidão,
E faço amor sem erecção...
Não há momentos pudicos,
Apenas fetiches lúdicos.
Ah, pura diversão!
Ah, pura imaginação!
É, prefiro quando o amor no cérebro actua
Do que o sexo de dois corpos em capicua.

Se sou louco?!
Talvez um pouco.
Sossegadamente, nua e serena
Olhava o escuro tranquilamente,
- Não sei se seria por gosto ou pena -
Que o admirava assim fixamente.

Prendeu-o no olhar e, iluminou-o.
Abriu os braços e abraçou-o.

Explicou-lhe que era a Lua
E que à noite, era só sua.

A Relatividade do Barulho

A porta é muda mas às vezes chia
Quando a empurram ou puxam,
Fala por vezes mais do que devia
Criando gigante inquietação.

E a silenciosa panela de pressão
Que a frio não solta nem chiadeira
Mas quando a aquecem no fogão
Larga-se em tamanha barulheira.

Já o peido que largamos de mansinho
À espera que ninguém o ouça
Quando foge com obsceno cheirinho
Grita mais que qualquer cousa.

terça-feira, 9 de março de 2010

O mundo agradece às mulheres

Viva a pureza do feminismo
A flor e frágil delicadeza
O erotismo e o sensualismo
As mulheres e a sua beleza.

Viva as barrigas grávidas
Os seios inchados de leite
O colo das mães determinadas
E a dedicação com deleite.

Viva as dores do fecundo
Que elas suportam no útero
São a coragem deste mundo
A luz do amor mais sincero.

Aplauso a todas as mulheres
Que carregam a humanidade
Afinal elas tem super poderes
E são as Deusas da fertilidade.

O céu anda triste...

Chove chove todo o dia
Chove chove sem parar
O céu não tem mais alegria
E não pára de chorar...

As bonecas imorredouras

As raparigas deixaram de ser meninas
Recheadas de inocente meninice,
Engordaram as mãos e as pernas finas
E já não brincam com a traquinice.

Restam-lhes as bonecas de porcelana
Que guardam nas suas memórias
De nomes: Juliana, Mariana, Joana,...
A lembrança de imaginar histórias.

As bonecas fora do tempo são velhas...
As raparigas dentro são mulheres...
As mulheres um dia morrem de velhas...
As bonecas nunca morrem mulheres!

terça-feira, 2 de março de 2010

Do 28 ao Fado

A Cidade está onde sempre esteve
Sentada em si, descansa imóvel
Apoia-se no tempo que a susteve
Intacta, é às suas origens fiel.

No seu ventre desce uma abelhinha
Que bonita é, vestindo de amarelo
Corre o carreiro de si certinha
Desfilando um corpo de modelo.

Mas já ninguém atenta à abelha...
O povo agora trocou-a pela toupeira
Quase só o turista voa ainda na abelha
Do largo da graça à ladra que é feira

Daí, segue para o emaranhado Lisboeta
De ruas e ruelas entrelaçadas
E, é com a Graça a servir de silhueta
Que vê as noivas de St. António casadas.

Desce mais um pouco a ganhar fôlego
E debruça-se nas costas de outra colina,
Passa o café do Poeta do desassossego,
Até ao Largo do Poeta que perdeu uma retina.

Aí já se namora o velho Bairro Alto
É lá que tenho um encontro marcado,
Freia o lento eléctrico e eu veloz salto
Que já se faz ouvir o meu amigo fado.

(Para o meu amigo Paulo Pereira)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Do pássaro, pouco resta...
Só um céu vazio despido,
Pano azul que já não presta
Que caiu com o pássaro abatido.

Choram de tristeza as nuvens
E o Sol está de luto,
Recordam o bater de asas em miragens
Unem-se num ultimo tributo.

Fazem explodir o horizonte
Tarjam-no de colorido,
Em meio circulo a poente
Homenageiam o ultimo voo perdido.

Amanha será outro dia...
Com ele nasce outro piar
O céu volta a ter alegria
Em breve voltará uma ave a voar.