terça-feira, 29 de setembro de 2009

O meu silêncio é anseio
É um medo de seguir
Um silêncio que é freio
Daquilo que pode surgir

É a timidez das palavras
Perfeitas arestas de mim
No absurdo vão bravas
Cruéis de mais, enfim…

domingo, 27 de setembro de 2009

O presente ideal

Merecias uma prenda
E eu ofereci-te um piaçá
Aceita esta oferenda
Que mais útil não haverá

É um utensílio multiuso
Indicado para a sanita
Mas podes dar outro uso
Que não a de limpar caganita

Pode ser escova higiénica
Para lustrar os dentes e os pés
Limpa e dá para a estética
Só tens de esfregar de lés a lés

Não tem o valor do ouro
Nem a beleza do diamante
Mas em momento de apuro
Limpa tudo num instante.



(brincadeira a amiga Diana no seu aniversário)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Desculpa o silêncio íntimo da dor
O meu ir na palma da meiga mão,
O brilho dos negros olhos confusão
Que se cerram num extremo dissabor

Desculpa o silêncio íntimo da dor
Pregado no meu peito como louvor,
Desculpa a magoa que dissecou
O ser aquilo que hoje sou

Desculpa divino Deus
Que a carne gelou
No frio do adeus…

Desculpa o desculpar imerecido,
Que tentei acordar o adormecido…
Aluguei um quarto
Cá no alto bem de mim
Na janela está o retrato
De uma vista sem fim

É um quarto móvel
De planos minúsculos
Mas dá noite de hotel
Para ócio dos músculos

É um cubo dos sonhos
Concedidos na cama,
Tristonhos ou risonhos
São suores do pijama

Com quatro paredes
Eu tenho um aposento
Onde não há hospedes
A descansar ao relento

Sou apenas eu no alto
Acamado no meu espaço
De onde as vezes salto
Para oscilar do que faço.

sábado, 5 de setembro de 2009

Às Poetisas!

Ó Poetisas presas na marcha
Nessa parada desalinhada
São linhas presas na borracha
À guerra farda encarregada

Revoltas armas em riste
Em batalhas moribundas,
Exactos tiros no rosto triste
Em frágeis covas colectivas

As poetisas livres na marcha
Heroínas! E um busto que jaz.
Recebem louvores na flecha
Alvo! Fumo do cachimbo da paz!

Despojadas das casacas sujas
De suor, lágrimas e sangue,
Revivem nas asas das corujas
Hora nocturna livre da morgue.

Ó Poetisas lusas em cadência
Lutem na guerra das palavras
Eternizem o feminismo fluência
Em poemas medalhas e honras!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

É ponto de encontro este estabelecimento
De histórias e gentes, na rua da Primavera.
É encosto prato bebedouro aquecimento,
O botequim onde o convívio é rei e impera.

Sobe os degraus e aproxima-te do balcão,
Pede um petisco e, se tens sede uma lambreta.
Aconselho a caracoleta assada e o berbigão
Petiscos deliciosos quando nus da vestimenta.

São delícias de chorar por mais, experimenta!
Ou queima uns dedos de conversa, um cigarro,
Não é sustento ainda assim embala e alimenta
A alma, como o copo se nutre do amigo jarro.

Entram velhos, novos e toda a gente da terra,
Onde em dia de jogo guerreiam goelas ornadas
E, altivas de seus cachecóis vêem qual mais berra
A gritar: - GOLO! … (até bradando bolas azaradas).

É alegria, é vida, é corrupio nesta freguesia,
Do lugarejo faço sitio de confraternizações,
Fogueira da amizade, agitação e, até terapia…
Ó abençoada cervejaria Simões!

(Aos meus amigos Pedro e Cidália)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Verde, verde, escuro musgo
De um sapo fugidio,
Sapo rápido e ofusco
Com medo da água do rio.

Sapo belo de uma beleza
Nada feia no retrato,
Sapo esguio de magreza,
Mas vaidoso do seu fato.

Sentado numa pedra lisa
que é mimada pelas águas,
Ele sonha e visualiza
O evaporar das suas mágoas.

Verde, verde, as suas lágrimas
Do rio da sua vida,
Revolto no estreito dos dilemas,
Corrente traiçoeira e fingida.

Sapo, sapo, moreno verdinho
Ri-te, ri-te e, mais não chores
Que ainda és um doce sapinho
E na água desaguam as dores.