segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eureka!

A matemática é a árvore genealógica dos bichos-de-conta.

Reflexos

Um poema nem sempre deve ser complexo e, impregnado de figuras de estilo e linguagem aprumada. Às vezes, deve de ser apenas um simples espelho mono-função, que existe somente para reflectir o que se encontra à sua frente.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Deixem o defunto em paz.

O ultimo suspiro foi vago, inerte, acinzentado,
Sufocado com a almofado do pó temporal...
As coveiras começaram a comer o corpo inchado
Assim que este caiu no escuro do ultimo beiral.

Da falésia missal choram na reunião de olhares
Os parentes, os amigos, e, até os ódios perdoados;
Reunidos, soluçam de negro, tristes recordares
que com o defunto partem lentos mas soterrados.

Os vermes, esses gladiam-se num farto festim,
Manjando no luxuriante rolo de carne preparado.
- Sem nexo! Agora que a vida deu a mão ao fim,
Os mórbidos enfeitavam o pasto inerte de floreado?

Não sufoquem o cadáver com roupa, flores e choro,
Deixem-no respirar silenciosamente o sono interminável
Apenas com as cócegas das metamorfoses em coro:
Entre as larvas e a sua nudez numa simbiose amigável.

Linguagem viva e fresca

As palavras são içadas pelo pescador
Do Mar alto para a boca viva da praça,
No rebuliço da venda, mudam de orador
Mas mantêm sempre a tradicional graça
Do palavreado asneirento mas inocente
Que na praia da boca rebenta estridente.

A língua enrola-se na linguagem irreverente
E, rola rebola ruidosamente redonda
No palavrão que desmedido salta de repente
Da boca descuidada pela onda,
Oferecendo o sucesso às vendas do mês,
A asneira à praça e o espanto ao freguês.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nas vielas estreitas e antigas
Desta Lisboa erguida em bairros
Nascem amores e cantigas,
Morrem corações...em farrapos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fim...

É no silencio da noite
que voo sobre ti,
Seguído pela morte
desde o tempo em que parti.

Esta morte imaginada
Descalça de sentimentos
Só pode ser tua aliada
Nestes sôfregos momentos.

Odeio-te pelo que sou
Nesta metamorfose de mim
Que começou e não findou,
Silenciosa até ao fim...

Consciência ecológica

Uma árvore é um poço de oxigénio,
Um pilar que sustenta o céu.
Uma árvore chega a viver um milénio
E têm no seu cume um natural chapéu.

De verde perpétuo é Senhora
Das terras da Amazónia e do Bornéu,
É a majestosa Mãe protectora
Da selva com o seu luxuriante véu.

Na floresta serve ainda de lar,
É o arranha-céus da bicharada
E tem mil andares para dar
A quem quiser em si uma morada.

Mas a ganância humana é cega de moderação,
E sem respeito, as cortam, as matam e queimam...
Ai, como é estúpida e inconsciente a pegada humana,
Que não vê que não há vida sem o ar que das árvores emana.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ah, semana brava!!

Cinco dias cortados por dois
Com a faca do descanso,
Adeus árdua semana de bois:
Labor bravo do bovino manso!


De sol a sol só reina o suor,
O povo privado de satisfação
Levanta cedo ao colo do alvor,
E cedo deita por obrigação.


Anda tudo estoirado e farto
Da chata boca do patrão,
A gritar do alto do seu fato
Quase nunca com razão...


Mas por dois dias há tréguas.
É a merecida bandeira branca
E o povo feliz afoga as mágoas
A mais uma semana de alanca.

As rasteiras da beleza.

Na negra praia repousava uma lagartixa.
Aquecia-se roubando o calor ao chão,
Imóvel como a lapa que se encontra fixa
Ao raro descanso extraído da rebentação.

Vestida de verde exibia todo o esplendor
das lantejoulas que lhe adornavam o dorso
e como brilhavam elas à luz do criador.

Mas tamanho encanto quase virava remorso:
É que ao tropeçar no nevoeiro do calor,
Quase pisei o belo luziluzir do seu dorso.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Hoje salvei uma rosa.

Já respirava pálida… desnudada… quase morta da lindeza da rosa.
Curvada Rainha desgostosa, infeliz flor adoentada…
Então, milagrosamente, quase no último suspiro de vida, surge a mão do poeta e num movimento firme de raiva arranca-a aos campos inférteis da prosa;
De seguida, com um gesto terno, replanta-a nos sulcos frutíferos e sãos do poema para que enfim fosse curada.

Agradecida, a flor prometeu, dar o perfume às rimas e os seus espinhos… às mãos que tentassem roubar este poema.