domingo, 31 de janeiro de 2010

Erotismo imaterial

O erotismo do silêncio
É carnal, ecoa prazeroso,
Ressoa no compêndio
De um lençol carnoso.

É excitante ouvir os gritos
Do silêncio carnal
Entre mãos feitas gemidos,
Entre a sua posição fetal.

Os lençóis acatam mudos
A merecida vassalagem
A dois corpos carnudos,
A dois corpos em viagem.

No fim calam-se os gritos
No barulho do prazer,
No fim ouvem-se os gritos
De duas almas a gemer.

Sincera, obscenidade sincera!

O que queria era ouvir a noite a exclamar
As estrelas a dançar eróticas desnudadas
E fazer do véu um estaminé para dançar
Onde tivesse algumas horas bem passadas.

Sem amor nem o nojo da vida meretriz
Só graça de corpos imaginados graciosos.
Sem maquilhagem nem cheiro de verniz
Só a sinceridade da nudez dos fogosos.

Nada de promessas vindas da virgindade
Palácios arábicos ou castelos medievais,
Contos de fadas nascidos de outra idade
Que se somem com o sopro de vendavais.

Apenas o prazer da alegria rítmica nocturna
De não ter juras nem divisar as intimidades
Sonsas e cuspidas do amor, apenas a furna
Excitada, humidade e activa de leviandades.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Agora que morri, usem-me!
Drenem-me o sangue deposto
E com sal grosso salguem-me
O corpo e o outrora rosto.

Vendam-me numa miúda feira
Viva da tourada em frenesim,
Onde tudo se vende, da poeira
Ao pouco que restou de mim.

Ou troquem-me ao desbarato
Entre os restos a despachar,
O que sobrou do triste retrato
Dêem ao improvável mumificar.