segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ebrio pensamento

Tenho o copo e o pensamento,
No cigarro acalmo o tormento
Ai morte lenta! Fumo mais um,
Alimento que mata em jejum.

Cálice eterno da existência,
O Santo Graal da inspiração
Que joga a par com a demência
Logo que cai na rede tentação

Sirvo-me eloquente em roda
Do pensamento forrado de frágil,
Ébrio deixo tudo andar à roda.
É dura a noite, e eu tão débil.

E quando fica estéril deserto,
E a meio uns degraus vazios,
Vive no copo já um só resto
Dos outros golos em desafios!
Navegas arrastando o sal,
Salgas os peixes memoriais,
As escamas são a tua pele sensual
No pérfido reino dos mortais

Afogas o Mar no perdido peixe,
Olha, resgata a estrela-do-mar!
Rápido Sereia; há quem não deixe,
Sequer as suas águas salvar…

Conservas a maresia salgada,
As conchas, as ondas e os sargaços.
Reúnes tudo numa só remada;
Leva-os pela praia ainda que descalços!

A caravela espera por eles ao largo.
Andam sequiosos os pobres marujos,
Choram bêbados do rum amargo,
Ou será do baú dos seus remorsos?

Perdidos afogam-se na ressaca…
Salva-os, Sereia das mil Mares!
Livra-os, desse eterno sacrifício Inca,
Resgata-os, do cemitério do convés.

E eu que contemplo esta epopeia
Do Olímpio dos teus náufragos,
Quem me salva a mim, mítica Sereia?
Que há muito naufraguei nos teus braços!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Mariposa

Uma mulher sem rosto
Que vejo sentada ao vento.
Solta-te brisa misteriosa,
Bate nas asas da mariposa

Voa, voa princesa… voa!
Abraça o teu reino primaveril
Com a tua beleza que ecoa
Numa só asa nua de perfil

Derrete beijos nas flores
As tuas lacaias mimadas,
Elas dão-se a ti em favores
Só para serem de novo beijadas.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Queria-te mais do que posso

Queria tanto e nada tenho,
Queria ainda saber o que sou,
Queria descobrir de onde venho,
Queria saber porque acabou…

Queria saber o que serei,
Queria ter o que não possuo,
Queria saber o que não sei,
Queria saber porque amuo…

Queria guardar tudo de ti,
Queria saber se gostas de mim,
Queria alcançar o que senti,
Queria saber se estas afim…

Queria viver em ti eternamente,
Queria para sempre acompanhar-te,
Queria do amor não ser abstinente,
Queria apenas conseguir amar-te…

Viagens nocturnas sem destino

Crente nos amantes profanos da lua
Esses pássaros sem mãe de sinal,
Ouvindo os suspiros de quem alua
Nos cânticos das aves em festival

Religiosas danças no céu nocturno
Vazios espaços que me preenchem
De nada, e esses anéis de Saturno
Que aos meus dedos se prendem...

Soltem o vão desocupado do espaço,
Os astros que ao mago globo veneram
E, os cometas loucos ainda em devasso
Neste escuro que perde a imensidão.

E as aves noctívagas fixas na escuridão
Ladras da noite que brilha sem pudor
Acompanhantes perdidas na tentação
De um sol que se envaidece em calor

Amigas que penduro no esqueleto
As noites escuras sinais do meu corpo
Servem à sorte, são servas amuleto
Salvação que sempre chega a tempo

A quente fé que arde nas asas
Voos comandados da razão antípoda
Esperanças amigas até que partas
Carris num espaço que ainda roda

E fica o piscar de olho do Sol à noite
Reflexo da amante Lua que o ilumina
E é tudo isto que serena o açoite
Das viagens que caminho sem sina.

Presente de Natal à minha Mãe presente!

Abre um embrulho de carinho
Laçado com jeito de ternura
Em fria Quadra de azevinho
É a minha prenda mais pura

Aceita algo que não se vende
Uma prenda que não é presente
Não é feita por nenhum duende
E, de tudo o que dei é diferente.

Não tem hora para ser aberta,
O amor de filho que te entrego
Porque Mãe é uma alegria certa
A dádiva que me deixa tão cego.

Hoje e sempre que não é Natal
Nada tem o valor que eu quero,
Que agradeça o amor maternal
Eterna oferta que mais venero.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Há beijos que matam
Os seus perfeitos amores.
Outros há que os reanimam!
Ai, esses súbitos milagres…

Bem-me-quer, essa sorte malmequer,
Mal me quer – Colhi o azar na flor!
O destino está na pétala que eu colher
Ou serei escravo ou beija-flor.

Do perfume – sou escravo!
Do sangue do cravo
Consumo o amor à rosa
No beijo da saudosa mariposa.

E os Amores-perfeitos aos molhos
Bem-quereres amantes naturais
Que assumem a cor dos teus olhos,
Amigos desses teus beijos fatais.


Hoje, sou beija-flor das memorias,
Quimeras num jardim de poesias.
Ó incenso de alecrim…
Nostálgico perfume que deixas-me assim!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Fugidios momentos de incertezas,
Crispados tempos sem destino,
Vitima inocente de excessivas feras,
Trilhando caminhos sem atino.

As evidências esbatidas sem linha,
Pasmos momentâneos de confiança,
Lançados à sorte são uma advinha,
Imploro por ser de novo criança.

Um estado diferente sem ninguém,
Aromático, vaidoso e, clandestino,
Enganosos enganos do além,
Que acato só e no corpo assino.

Ocasiões espirituais relaxantes,
Ofuscas sombras crescidas à sorte,
Sonolentas dúvidas inquietantes,
Que palmam e devinham neste forte.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O segredo do ultimo verso.

De que vivem os escritores?
Onde escrevem os poetas?
Será das palavras certas?
Na lembrança dos amores.

De que vivem as paixões?
E as pobres das saudades?
Será da loucura das emoções?
Da dor quando não apareces.

De que vive esta fragrância?
Ou a chama da lembrança?
Será o passo da tua elegância?
Amor do teu jeito de criança.

Eu vivia só mais um segundo
No abrigo de um só abraço;
O Eu com fome é vagabundo,
Que se alegra com um só pedaço!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Não nego às lágrimas o caminho
Que elas não choram de tristeza,
São lembranças de um beijinho
Que guardei na alma, sua Alteza!

Ténue chocar de lábios cativados
Na saliva duma chama ardente,
No cortejo de dois rostos sinceros
Que se mendigam loucamente.

Prosas amantes das energias,
Semblantes figurinos tão íntimos,
Truques encobertos do que querias,
Nos olhos meigos comprometidos.

Risos trémulos libertos em nós,
Sinceros ensejos dos amores,
Despidos lábios já sem cós,
A provar um vestido de sensações.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Amargas noites solteiras
Despidas ruas sem nome
Sombras avulsas matreiras
Dobras que a esquina consome

Traços que o breu apaga
Danças arrítmicas mimadas
Calçadas que a luz afaga
No luxo das noites estreladas

Segredos a cada porta fechada
Gritos escancarados nas vielas
Rostos matizados na fachada
Moças que em pedra são donzelas

Intervalos matinais revigorantes
Que deitam as noites cansadas
Descansam as utópicas amantes
Errantes visões por mim mimadas.