sábado, 20 de fevereiro de 2010

Crueldade

A vespa é má...?
A cobra é má...?

O crocodilo é mau...?
O tigre é mau...?

Não!
O animal não tem maldade,
Mata apenas por necessidade
Sem alegar qualquer razão.

Mau é o animal racional,
O único que distingue o bem e o mal.
Mau é o Homem
Porque mata por-lhe saber bem.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tenho ideias que são ideias
Outras que nem tanto o são,
Alternam-se como as ameias
Do topo de uma fortificação.

Às vezes surgem-me aos pares
E visto-as como às meias
Umas não passam dos calcanhares
Outras acabam bem cheias.

Selecciono-as grão a grão
Na imensidão das areias
Para as que encontro utilização
Injecto-lhes sangue nas veias.
Entristece-me ver o cão da minha vizinha
Pendurado à janela numa posição quase humana
E cada vez que o vejo, sinto na espinha
Um arrepio de tristeza que me abana...

Que lagrimas brilham nos olhos do cão?
Que tristeza as puxa a caminho do chão?

Partilhamos a tristeza entre as frentes de janela
Rasgando as diferenças anatómicas de cada reino,
Eu assumo que no pescoço de humano aperta uma trela
Ele despe-se do fato canino na alma de irmão uterino.

Já não volta a sua Dona que partiu!
Já não volta que para o além partiu!

Aceito aquela humana consciência debruçada,
Lavando de choro as paredes do prédio
E solidário visto eu o fato da bicharada,
Porque as vezes, um irmão é o melhor remédio.

Unimos as almas e almas ao choro!
Ele no seu, eu no meu, num singelo coro!

Ainda não tive coragem, numa destas noites, de lhe confessar
As razões porque o acompanho, da minha janela, na sua espera.
Será que ia ele entender-me? - Que eu só espero o amor voltar...
Acovardo-me só de pensar que insisto esperar tal Quimera.

Afinal o cão é mais sensato que o homem!
Afinal o cão também sofre e não é ninguém!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Peva num copo vazio
Foi aspirina para as dores,
Desfez-se a lei que aboliu
À troca de sabores.

A garganta evadiu-se
Da casca do caracol
E o líquido sumiu-se
Nos odores a etanol.

Nesse ultimo trago
Roubado ao copo
O nariz caiu amargo
No sentido do corpo.

A faca falhou o alvo
Mas o corpo é do chão
E o azulejo só é salvo
Pelo copo na mão!